Francisco José Freire, 1719-1773.
CARTA APOLOGETICA, EM QUE SE MOSTRA, QUE NÃO HE AUTHOR DO LIVRO, INTITULADO ARTE DE FURTAR O INSIGNE P. ANTÓNIO VIEIRA DA COMPANHIA DE JESUS / ESCRITA POR HUM ZELOSO DA ILLUSTRE MEMORIA DESTE GRANDE ESCRITOR-
Lisboa : Na Regia Officina Sylviana, e da Academia Real, 1744
[2], 25 pp.
Junto com:
Francisco Xavier dos Serafins Pitarra, ? -1725,
DISSERTAÇÃO APOLOGETICA, E DIALOGISTICA, QUE MOSTRA SER O AUTHOR DO LIVRO ARTE DE FURTAR DIGNO DESVELO DO ENGENHO ILLSTRE DO PADRE ANTONIO VIEYRA / EM RESPOSTA DE HUMA CARTA, ESCRITA POR HUM IGNORADO ZELOSO DA MEMORIA DO DITO PADRE.
Lisboa : Na nova Officina Sylviana, 1746
[8], 26 pp.
Junto com:
Francisco José Freire, 1719-1773.
VIEIRA DEFENDIDO : DIÁLOGO APOLOGÉTICO EM QUE SE MOSTRA, QUE NÃO HE O VERDADEIRO AUTHOR DO LIVRO INTITULADO ARTE DE FURTAR O PADRE ANTÓNIO VIEIRA DA COMPANHIA DE JESUS.
Lisboa : Régia Off. Sylviana, 1746
[12], 67 pp.
Encadernação inteira de carneira da época.
Ex-Líbris de José dos Santos.
€ 750.00
A famosa questão da controversa autoria da obra Arte de Furtar, inicialmente atribuída ao Padre António Vieira e depois colocada em causa através da publicação destes três opúsculos.
A Arte de furtar é uma das obras literárias mais emblemáticas do período da Restauração e e da crítica de costumes dos séculos XVI a XVIII.
A primeira edição da obra apresenta o seguinte título: Arte de Furtar,/ Espelho de Enganos,/ Theatro de Verdades,/ Mostrador de Horas Minguadas,/ Gazua Geral/ Dos Reynos de Portugal./ Offerecida a Elrey/ Nosso Senhor/ D. João IV./ Para Que A Emende. Indica seguidamente ter sido «Composta pelo/ Padre António Vieira,/ Zeloso da Patria» e impressa em «Amsterdam,/ na Officina Elvizeriana 1652». Todavia, a autoria da obra, o local e o ano de impressão, bem como o impressor aí indicados são falsos (a oficina tipográfica é duplamente falsa, pois o seu nome deveria correctamente escrever-se "Elzeviriana", mas tudo indica tratar-se dum erro propositado). De facto, o manuscrito, composto em 1652, manteve-se inédito durante mais de noventa anos, não sendo de excluir absolutamente que durante esse período possam ter sido feitas algumas cópias. A obra teve, enfim, a sua primeira impressão em 1743 ou 1744, em Lisboa, pelo livreiro genovês João Baptista Lerzo, dono de uma tipografia no sítio do Loreto, actual Largo de Camões.
Foi tal o êxito da obra que pouco depois se seguiriam, ostentando já a data verdadeira de 1744, várias novas edições "emendadas de muitos erros", alegadamente impressas em Amesterdão, agora "na Oficina de Martinho Schagen", mas, na verdade, provenientes da mesma oficina lisboeta do genovês Lerzo.
Pouco tempo decorrido sobre a primeira edição da Arte de Furtar, foram publicados vários escritos, ora recusando a autoria de António Vieira, como a anónima Carta apologética (1744), atribuída ao oratoriano Francisco José Freire (Cândido Lusitano), ora reafirmando-a, como a Dissertação apologética e dialogística, atribuída a Francisco Xavier dos Serafins Pitarra (1746). A esta replicou ainda Francisco José Freire com Vieira defendido (1746), estando estas três obras aqui apresentadas em conjunto.
Admitia-se já no século XVIII poder ser Tomé Pinheiro da Veiga o autor de Arte de Furtar, contrariando a autoria do Padre António Vieira. Instalou-se depois a polémica, com sucessivas atribuições e contestações, mas continuou até ao século XX a prevalecer o nome de António Vieira, talvez por ser o mais susceptível de favorecer o êxito editorial. Além dos citados, foram sugeridos como possíveis autores João Pinto Ribeiro, Duarte Ribeiro de Macedo, António da Silva e Sousa, António de Sousa de Macedo e D. Francisco Manuel de Melo.
A autoria do Padre Manuel da Costa só em meados do século XX foi documentalmente estabelecida, embora continuassem a surgir dúvidas a esse respeito.
Exemplar do famoso livreiro José dos Santos, autor do catálogo Azevedo-Samodães, em que figura este mesmo exemplar, na página 842 do 2º volume.
Não encontrei registo da venda de qualquer outro com as três peças juntas desde então, o que afere a raridade do conjunto.
Inocêncio II, 405
Azevedo Samodães, 2º vol., p. 842
€ 750.00